o mar do poeta

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quinta-feira, outubro 7

OS MONGES SABEM DANÇAR

A lenda das cabras dançantes







Há muitos séculos, nas terras do que é hoje a Etiópia, um garoto-pastor de nome Kaldi acordou e logo deu pela falta de várias cabras. Como não pode ha­­ver pastor sem cabras, Kaldi resolveu partir pelas encostas e montanhas até descobrir onde estavam seus animais. Andou, andou, andou, mas não encontrou.

Quando o sol estava já caindo, o exausto Kaldi olhou, pela última vez para cima e para baixo e, para sua surpresa, percebeu algumas cabras cabriolando, dançando, num vale profundo. Logo ­ficou muito interessado nessa visão que podia ser até milagrosa. Pelo menos tinha a ver com o hábito caprichoso das ca­bras.

Lentamente foi se aproximando e per­­­cebeu que as cabras estavam mastigando uns frutos vermelhos que pareciam saborosos. Como Kaldi tinha estôma­go forte e sempre comia os ­alimentos das cabras, achou que podia também matar a fome com os tais frutos, mas pensou:

- Será que não será o fruto o provocador deste comportamento esquisito das cabras? Não será perigoso, pois as ca­bras parecem estar enfeitiçadas?

Ao mesmo tempo, o estômago aper­tava de fome e ele resolveu arriscar a sorte, experimentando alguns desses frutos, acreditando que a visão de ­ca­­­bras dançando era resultado da penú­ria estomacal. Afinal, quem já ouviu fa­lar de cabra dançando?

Algumas horas depois, um monge passou pelo lugar e viu as cabras dançando com o menino-pastor. Achou tu­do muito esquisito; esfregou os olhos, pois as alucinações acontecem naquelas regiões quentes, mas a alegre ­dança não desapareceu: os animais cabrio­la­vam e o garoto saltitava. Quando tentou se aproximar, o garoto tentou fugir com as cabras em alegre algazarra.

O monge, porém, agarrou Kaldi pelo braço e exigiu explicações do comporta­mento bizarro, pois aquilo parecia ser feitiçaria, algo indigno de um bom fiel. O ga­roto mostrou os frutos e o monge acreditou que tamanha alegria pudesse vir, de fato, dos frutos vermelhos, pois é as­sim que se fazem venenos e poções para muitas finalidades, inclusive demoníacas. O correto seria, então, comprovar a finalidade dos frutos no laboratório do mosteiro e para lá seguiram o monge, Kaldi, as cabras e um saco de frutos ver­­melhos.







Quando a experiência ia começar, alguns monges revoltaram-se, temendo a ira divina. Tentaram exorcizar os ­frutos, jogando-os no fogo. O aroma desprendido pelos grãos torrados despertou a curiosidade do velho monge que percebeu não estar ali algo diabólico, mas tal­vez di­vino. O diabo não expele bom cheiro, mas ruim.

O monge amas­sou os grãos torrados, fez várias infusões e distribuiu para os noviços que, depois de umas boas ca­necas, ficaram muito alegres e dispos­tos para o trabalho, para a leitura e para as preces. Percebeu que o fruto era mes­mo um presente de Deus para facilitar a vida dos monges que viviam reclusos. Per­cebeu que a bebida quente dava novo vigor, abrindo os olhos para novas inspirações, ajudando os monges a ficarem acordados durante as noites de prece.

Foi assim que o café ganhou um lu­­gar na horta do mosteiro. Em 1727, os por­­tugueses conheceram a bebida estimulante e a levaram para o Maranhão, no Brasil. Por volta de 1760, os frutos já de­nominados “café” começaram a ser plan­tados no Rio de Janeiro.



Cabras no cafezal



No Brasil, os cafezais são imensos e muitos produtores já testaram a capina por meio de cabras e ovelhas. Há mi­lhares de cabras e ovelhas sendo utilizadas, todos os anos, como capina­dei­ras e esse é um fabuloso mercado para os animais.

O resultado na capina do café é mui­to bom, mas apresenta um grande pe­rigo: os pesti­cidas atuais incluem ­Cobre, um produto que intoxica cabras, com muita facilidade. Assim, o correto é utili­zar cabras e ovelhas em cafezais que não utilizam pesticidas que contenham Cobre.

Por outro lado, estranhamente, os tu­ristas do mundo inteiro visitam o Brasil para dançar no carnaval e desfrutar a alegria do povo, mas as cabras que dançaram nos cafezais da Arábia, comem alguns frutos brasileiros aqui e acolá, mas ninguém jamais viu algumas delas dançando e remoendo. Dançaram lá, mas não dançam aqui, ou, pelo menos, ninguém vê.





Fonte - Revistaberro













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