o mar do poeta

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sexta-feira, maio 27

BARCO-DRAGÃO




As corridas de barco-dragão em Macau já se praticam à vários anos, está recordado o articulista aquando da sua chegada a Macau, no ano de 1964, quem em 1965 as mesmas eram disputadas no Porto Exterior, mais tarde muitos anos mais tarde, passaram a chamrem-se Regatas e eram praticadas no Lago Sai Van, nestes últimos anos passaram a ser realizadas no lago Nam Van, mesmo defronte do edíficio onde reside o articulista.



Regata do barco-dragão realizada no Porto Exterior.

Os bolinhos de arroz, HÁME IOK CHUNG, assim se pronúncia no dialeto cantonense, é composto de arroz glutinado, gema de ovo salgado, pedaços de carne de porco mraga e gorda e ainda feijão encarnado ou feijão verde, tipo chinês, grãos pequenos.são não só é consumidos na altura das regatas do barco-dragão, mas durante todo o ano.
Assim se designa os bolinhos de arroz, Háme Iok Chung, devido a ser salgado, mas existem vários tipos, um deles o Kó Cheng Chung que leva o arroz glutinado, cogumelos, carne de porco ou de galinha, gema de ovo salgado e os tais feijões, existe ainda um outro tipo, mas doce, sendo todos eles embrulhados em folhas ou de bambu ou de flor de lótus.



Sendo cozidos em banho de maria.



Mas, sobre esta matéria vejamos o que nos relata o históriador António José Graça de Abreu.

As regatas dos barcos-dragão iniciaram-se em Macau, com carácter de regularidade, no final da década de 1970. A corrida de barcos em forma de dragão constitui o momento alto de uma das festas mais importantes do calendário chinês - a duanyang - conhecida entre os ocidentais por "festividade dos barcos-dragão". Realiza-se no 5º. dia do 5º. mês do ano lunar, motivo por que também é chamado "duplo cinco". Na manhã daquele dia, algumas dezenas de barcos, representando emprensas e colectividades locais (associações cívicas, comerciais, culturais e recreativas), bem como algumas equipas estrangeiras, concentram-se num local escolhido pela organização, e, enquanto realizam curtos exercícios de aquecimento, os responsáveis pela competição sorteiam a ordem dos barcos, e o seu lugar de partida.

Antes da prova, cumprindo a tradição, as equipas participantes dirigem-se ao Templo de Á-Má (Templo da Barra conhecido pelo Má Kók Mio) e oferecem incenso à deusa. Também cumprindo um costume antigo, atam folhas de toranja e gengibre na proa dos barcos, para afastar os maus espíritos. Chegado o momento de competir, um membro do governo de Macau e outras personalidades convidadas pintam os olhos dos barcos-dragão.

De tipo piroga, estreitos e com cerca de 10 metros de comprimento, os barcos têm na proa uma cabeça de dragão e na popa, a cauda.

Os competidores sentam-se lado a lado, remando com pás de madeira, ao ritmo de tambores e gongos. Normalmente, as regras da prova fixam para cada equipa 22 elementos, incluindo o timoneiro e o tamboreiro.

É este último que impõe o ritmo aos remadores que, num esforço de cooperação e sincronia, dão o seu melhor perante uma assistência que grita e aplaude. No final, são atribuídos aos vencedores pequenos prémios de valor simbolíco, que são religiosamente conservados até à festividade do ano seguinte. As equipas vencedoras costumam participar em competições internacionais em vários pontos da Ásia.

Estas celebrações exteriores são complementadas por pequenas cerimónias religiosas no recolhimento dos lares chineses, com oferendas simbólicas aos antepassados.

Algumas famílias colocam amuletos do dragão nas portas das habitações. Num ambiente festivo, comem-se e oferecem-se aos familiares e amigos, bolos de arroz embrulhados em folhas de bananeira.

Sendo Macau uma península e Taipa e Coloane duas pequenas ilhas, e tendo presente que em certos períodos da história do Território, a população flutuante chegou a exceder em número a que habitava em terra, é natural que o elemento água tenha adquirido uma importância primordial na vida, na símbologia, no imaginário destas gentes. Porém, apesar das circunstâncias favoráveis, não há conhecimento de que a importância do mar se haja feito sentir a nível de competições lúcidas ou desportivas.

Só as regatas dos barcos-dragão constituem excepção e, curiosamente, trata-se de uma tradição que não tem origem no mar, mas em antigas lendas do interior do continente chinês.

Segundo a tradição, no século III a.C., um ministro e famoso escritor de nome Qu Yuan, pretendendo convencer o Imperador e os seus conselheiros da necessidade de evitar a guerra com um Estado vizinho, terá optado pelo suicídio, precipitando-se de um rochedo nas águas do rio Miluo, na província de Hunan.

Perante tal atitude, o Imperador decidiu seguir o conselho do seu ministro, e mandou uma numerosa flotilha de barcos para resgatar o seu corpo das águas do rio. Entretanto, o povo, que conhecia a honestidade de Qu Yuan, e o admirava pela sua fama de lutador contra a corrupção ea intriga da corte, quis evitar que o seu corpo fosse comido pelos peixes, e acorreu com seus barcos, lançando para a água arroz glutinado embrulhado emsedas multicolores, e batendo ao mesmo tempo com os remos na água.

De acordo com outra versão, foi um grupo de aldeões, que, condoídos com a sorte do ministro, correram para as suas canoas e remaram, velozes, enquanto deitavam para a água pequenas porções de de arroz envolvido em folhas de bananeira, e batiam gongos e taqmbores, com o intuito de desviar a atenção dos monstros marinhos, para impedir que se apoderassem do corpo.

Uma terceira versão da lenda conta que era uma irmã de Qu Yuan quem deitava arroz ao rio, para oferecer ao irmão, preso nas profundezas. Tendo este informado a irmã que o arroz estava aser comido pelo dragão do rio, ela passou a embrulha-lo em folhas de árvore atadas com laços, para ludibriar o dragão.

Qu Yuan nasceu no ano 340 aC., no distrito de Zi Kuai, província de Hubei. Era letrado e as suas obras literárias, sobretudo poesia, ocupam lugar de destaque na literatura chinesa da época.

Aos 20 anos foi nomeado responsável pela administração interna e negócios estrangeiros, um dos mais importantes cargos do reino. O período em que viveu, na dinastia Zhou, foi marcado por violentos conflitos entre os sete reinos chineses, ficando conhecida como "Período dos Reinos Combatentes".

Suícidou-se no rio Miluo, um afluente do lago Dongting, depois de ter sido falsamente acusado. O suicídio terá ocorrido no ano 278 a.C., no 5º dia do 5º mês lunar, o que parece explicar por que é que a lenda associa a sua memória à festa dos barcos-dragão, que se realiza naquela data, mas que é muito anterior a Qu Yuan.

Das grandes festas que, desde tempos imemoriais, se celebram em toda a China em homenagem ao mítico dragão, a dos barcos-dragão é uma das mais antigas e importantes. Ainda hoje, no Norte da China, as populações do interior consideram o "duplo cinco", um dia azarento, havendo por isso necessidade de afugentar os espíritos maus. A homenagem ao deus-dragão nesse dia teria também este intuito.

Os talimãs e amuletos que os povos do Sul colocam à porta das habitações por ocasião do "duplo cinco" parecem confimar tais receios. Há, porém, quem defenda que o costume de realizar corridas de barcos com forma de dragão anda associado, não ao "duplo cinco", mas ao soltício de Verão e às festividades próprias desta quadra.

Os bolos de arroz, ou katupa, associados à festa dos barcos-dragão, eram uma iguaria sazonal que se destinava a assinalar a chegada do Verão, e o costume de os comer nesta quadra apoiará tal versão. Acresce referir que este costume é bem anterior ao suicídio do jovem poeta e político.

Na quadra festiva, o bolo, a que os chineses chamam zhongzi, continua a fabricar-se em quantidades por toda a área de Cantão, onde Macau se integra. De facto, a festividade não parece alheia ao culto do Sol, quer por envolver a presença símbolica do dragão quer por coincidir com a época em que os agricultores faziam oferendas e iniciavam preces a pedir protecção para as sementeiras, temendo a falta de água ou excessos das cheias devastadoras.

O "duplo cinco" celebra-se numa época do ano que, em condições normais, é particularmente chuvosa no Sul da China, onde Macau se insere. As duas interpretações acabarão, afinal, por não se excluir. Confirmado, parece também que, mais do que uma mera competição desportiva, as regatas dos barcos-dragão (que não são propriamente uma modalidade desportiva) são uma evocação do mítico deus-dragão e das preces que tradicionalmente, na China, desde o imperador ao povo, andavam associadas ao soltício do Verão.

Evocam também a memória de um estadista honesto e amado pelo povo, que sucumbiu em dia de festividade do deus-dragão. [A.J.G.A.]

António José Graça de Abreu - Mestre em História dos Descobrimentos e Expansão Portuguesa. Investigador.

Biografia: Araújo, Amadeu, Diálogos em Bronze - Memórias de Macau, (Macau, 2001), BREDON, Juliet; MITROPHANOW, Igor, The Moon Year, (Hong Kong, 1982; CHRISTIE, Antony, Chinese Mythology, ( Hong Kong , 1983); EBERHARD, Wolfram, A Dictionary of Chinese Simbols, (Nova Iorque, 1998); JORGE, Cecília, "Dragão, Dragão", in Revista Macau, II Ser., nº 13, (Macau, 1993), pp. 22-31; WERNER, E.T.C., Myths and Legends of China, ( Nova Iorque, 1994).

- Artigo extraído do livro DITEMA - Dicionário Temático de Macau, Volume I, publicado pela Universidade de Macau.







De 4 a 6 de Junho realizam-se as Regatas Internacionais de barco-dragão, tudo está a posto, e as bancadas já foram instaladas.
Diariamente o articulista tem que suportar o barulho do bater dos tambores, marcando o ritmo das remadas dos barco dragão, é assim já!...

Como se pode ver pela foto, as mesmas se disputam no lago Nam Van, mesmo defronte da varanda da casa do articulista.



Dia 6 de Junho é feriado em Macau, comemorando-se o dia do Festival Tung Ng, também chamado Festival do barco-dragão.

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